quinta-feira, 5 de junho de 2014

E SE NEYMAR FOSSE ARGENTINO?


"Por 'complexo de 'vira-lata' entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a auto-estima." (Nelson Rodrigues).

Primeiro amistoso pré-Copa, diante do fraco Panamá. Neymar fez seu 190º gol na carreira. O primeiro do Brasil que abriu a goleada por 4 x 0.
Pela seleção principal já são 31 gols, além de mais quatro pela seleção olímpica. Há quem diga que são mais de 200, porém os gols marcados nas categorias de base do Santos e da seleção não fazem parte das estatísticas oficiais.
Mas futebol não é matemática, nem uma ciência exata.
Neymar é craque. Rápido, habilidoso, goleador. Dribla como se fosse ainda um moleque jogando na praia, atrevido, irreverente. Quando não faz gols, a bola irremediavelmente passa por seus pés, em algum lugar do campo. Atualmente, é o principal jogador da seleção brasileira. Está entre os cinco melhores jogadores do mundo. Atua num dos melhores clubes do mundo.
Neymar domina o jeito de jogar futebol. Usa até mesmo as provocações dos adversários como componente para efervescência de seu jogo. Quando cai não é um problema. O problema para o adversário é quando ele se levanta após uma entrada dura ou maldosa. Até mesmo as suas quedas providenciais fazem parte do jogo. Cavar é diferente de simular. E lá está o árbitro para assinalar ou não. E punir, se houver violência.
Se ele se “joga” no gramado? Se necessário, sim. E o que é melhor? Se livrar de uma falta criminosa de um zagueiro brucutu e estar em pé com a bola dominada no minuto seguinte ou sofrer uma grave contusão que o deixe afastado por meses?
O favoritismo do Brasil na Copa disputada dentro de casa depende bastante do desempenho de Neymar. Com ele inspirado, a seleção tem 70%, 80% de chances de ser campeã. Sem o seu futebol, as chances se reduzem de forma considerável. Talvez 15% ou 20%. Felipão sabe disso.
Sendo assim, é natural que qualquer torcedor de qualquer parte do planeta queira ter Neymar fazendo acontecer pela seleção de seu país. Menos um. O brasileiro.
Apesar dos dribles, ainda é taxado de “acrobático”. Apesar de destruir o Panamá e libertar a seleção e o governo das vaias, ainda é rotulado de “cai-cai”. De "mascarado", "folgado", "exibido". A lista de adjetivos é extensa.
E se Neymar fosse espanhol? Se um Diego Costa é tão querido pelos espanhóis, o que diria de um Neymar? Será que os espanhóis gostariam de tê-lo ao lado de Xavi, Iniesta e Fábregas na seleção? Os portugueses não adorariam ver as suas arrancadas com Cristiano Ronaldo no ataque? E na seleção italiana, ao lado de Balotelli?
Mas e se Neymar fosse argentino?
Certamente seria idolatrado pelos hermanos, reverenciado em cada jogo, ovacionado nas arquibancadas e redes sociais como fazem com Messi e faziam até mesmo com o limitado Palermo.
O fato mesmo é que se Neymar fosse argentino, seria reverenciado também pelos brasileiros.
Porque, no Brasil, o sucesso do brasileiro incomoda.

3 comentários:

Anônimo disse...

Quando uma estrela brilha muito causa uma cegueira naqueles que possuem a escuridão, e quem vive no escuro dificilmente saberá o que é ter brilho, geralmente os invejosos são assim. Eu particularmente adoro o Neymar, é um grande exemplo para o jovens de hoje e merece muito mais brilho e sucesso. "Neymar" é o nome das Copas das Copas.

Alessandro disse...

Felipão sabe que, sem Neymar, a vida na Copa seria bem mais complicada. Mas uma boa parte dos brasileiros é complexada e o brilho do principal jogador do Brasil ainda ofusca e incomoda. Os "vira-latas" de plantão.

Anônimo disse...

Após quatro anos, cá estou lendo esse ótimo texto que, diga-se de passagem, é atemporal. Sempre haverá alguém fazendo sucesso, fazendo tudo o que aquela pessoa que fala mal, gostaria de fazer mas não foi capaz por algum motivo. Neymar era incrível há quatro anos atrás, quando escreveu esse texto, continua otimo até hoje... e assim, segue "incomodando".

Como sempre, adorei seu texto.